A discussão sobre a geração de energia e os impactos ambientais é antiga, mas ganhou força a partir da COP 28 em 2023. A 28° edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas foi considerada histórica, a partir do acordo firmado entre mais de 110 países, entre eles o Brasil, de triplicarem a geração de energia renovável até 2030.
Apesar de ser considerado um avanço, esse acordo não apontou maneiras de como esse investimento será feito. Nesse sentido, é necessário pensar em alternativas para uma transição energética democrática, que inclua os países emergentes e as populações vulneráveis.
A acessibilidade na transição energética é o caminho apontado pelo estudo Strategies for Affordable and Fair Clean Energy Transitions, realizado pela International Energy Agency, organização dedicada a propagar notícias relacionadas a geração de energia no mundo.
Nesse sentido, esse conteúdo vai discutir os principais desafios e alternativas para oferecer energia limpa e de qualidade, investimento necessário e algumas políticas que já apontam para um caminho promissor. Boa leitura.
Cenário energético atual
Antes de entrarmos no setor de energia renovável é importante trazer alguns dados sobre o setor energético global, que enfrenta uma crise, com o aumento das fontes tradicionais – Petróleo, Gás Natural e Carvão. Essa realidade traz reflexos para as distribuidoras, bem como para os consumidores que já enfrentam contas de energia mais caras e também a inflação em alimentos e serviços.
Além disso, vemos um aumento do consumo de energia, impulsionado pelo uso exponencial dos streamings, servidores em nuvem e ferramentas de inteligência artificial. A expectativa é que as centrais de dados responsáveis pelo processamento dessas ferramentas consumam 21% da energia global até 2030.
Quando analisamos os valores, os consumidores em todo o mundo gastaram quase US$10 trilhões em energia em 2022 — uma média de mais de US$1.200 por pessoa, segundo o IEA. Esse valor é cerca de 20% a mais do que há cinco anos, o que mostra o crescimento também no consumo em residências e empresas.
Panorama do setor de energia renovável
As fontes de energia renovável se apresentam como uma alternativa energética, apesar de encontrar barreiras, no que diz respeito aos custos de investimento inicial, principalmente em países emergentes. Outro desafio são as políticas regulatórias, pois, ainda temos alguns favorecimentos a tecnologias a base de carbono, em sua grande parte com subsídios a combustíveis fósseis.
Contudo, a perspectiva é positiva. A redução no custo das tecnologias utilizadas no processo de geração de energia, tem feito com que o setor fique cada vez mais acessível. A energia solar fotovoltaica é a fonte renovável mais barata e, mesmo quando pensamos no seu armazenamento, que pode elevar os custos, ainda percebemos o valor gerado para os sistemas de energia.
Contexto brasileiro
No Brasil, por exemplo, a crescente demanda por energia limpa está impulsionando o mercado, que possui um vasto potencial para a energia solar. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em 2024 a energia solar gerou R$12 bilhões em novos investimentos, abrangendo tanto a energia distribuída quanto a centralizada. Este valor representa um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Geração de Empregos
A instalação e manutenção de sistemas de geração distribuída (GD), por exemplo, são responsáveis pela criação de empregos, principalmente em regiões com alta incidência solar. Segundo a Absolar, esse setor gera cerca de 30 empregos diretos e 3,1 empregos indiretos para cada megawatt (MW) instalado.
Desafios enfrentados na transição energética
A implementação de tecnologias de energia limpa, como painéis solares e turbinas eólicas, exige um investimento inicial significativo. Esses custos são frequentemente associados à pesquisa, desenvolvimento, fabricação e instalação dessas tecnologias. Além disso, a infraestrutura atual em muitas regiões não está preparada para suportar a transição para energias renováveis.
Para países emergentes, a transição para energias limpas representa uma oportunidade para impulsionar o desenvolvimento sustentável e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, que em sua maioria são importados. Contudo, nesse cenário,os desafios da transição são ainda mais evidentes.
O financiamento inicial para tecnologias de energia limpa pode ser um impeditivo para a transição energética, devido a limitações orçamentárias. Além disso, muitas dessas nações carecem da infraestrutura necessária para integrar efetivamente as fontes de energia renovável na rede elétrica existente. A falta de redes de transmissão robustas e a insuficiência de sistemas de armazenamento de energia são barreiras significativas.
Estratégias para uma Transição Energética eficaz
A transição energética para energias limpas, segundo o IEA, deve ser inclusiva, garantindo que os benefícios sejam compartilhados por todas as camadas da sociedade, especialmente as populações vulneráveis. Políticas específicas são necessárias para proteger essas comunidades e facilitar seu acesso a energias renováveis. Isso inclui:
- Subsídios e Incentivos Fiscais: Governos devem fornecer subsídios e incentivos fiscais para reduzir o custo inicial das tecnologias de energia limpa para famílias de baixa renda.
- Programas de Financiamento Acessível: Desenvolver programas de financiamento com juros baixos ou sem juros para permitir que populações vulneráveis possam investir em energias renováveis.
- Educação e Capacitação: Implementar programas de educação e capacitação para preparar a força de trabalho local para empregos no setor de energias limpas, garantindo que as comunidades mais afetadas pelas mudanças econômicas possam se beneficiar das novas oportunidades de emprego.
- Projetos Comunitários de Energia: Apoiar projetos comunitários de energia renovável que permitam às comunidades locais produzir e gerir sua própria energia, reduzindo a dependência de grandes fornecedores e aumentando a resiliência energética.
- Proteção Social: Integrar medidas de proteção social para garantir que as transições energéticas não aumentem a desigualdade e que os custos de adaptação sejam compartilhados de maneira justa.
Políticas governamentais de transição energética
Alguns países já têm iniciativas interessantes no que diz respeito à transição energética. Veja alguns exemplos.
Senegal
O Plano Senegal Emergente (PSE) tem como objetivo aumentar a participação de energias renováveis e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Neste plano estão inclusas as seguintes políticas:
- Programa de Eletrificação Rural: Promoção de energias renováveis em áreas rurais.
- Parcerias Público-Privadas: Incentivos para investimentos em projetos de energia solar e eólica.
- Projeto Taiba N’Diaye: Primeiro parque eólico do Senegal, parte dos esforços para diversificar a matriz energética.
Gana
Em Gana, a estratégia nacional de Energia Renovável é alcançar 10% de participação de energias renováveis na matriz energética até 2030. Para isso, o país tem investido em leilões, para incentivar a instalação de capacidade renovável. Além disso estão previstos:
- Incentivos Fiscais e Subsídios: Para reduzir os custos de instalação de sistemas de energia solar e eólica.
- Programas de Financiamento: Linhas de crédito com taxas reduzidas para projetos de energia renovável.
México
No México, a Lei de Transição Energética prevê atingir 35% de energias limpas na geração de eletricidade ainda em 2024. Para isso, estão previstos os incentivos para empresas que utilizam energia renovável, leilões de energias com preços competitivos e atrair investimentos em energias renováveis.
Além disso, estão desenvolvendo programas de Eficiência Energética: Incentivos para a modernização da infraestrutura energética.
Reino Unido
No Reino Unido, a Lei de Mudança Climática tem o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 80% até 2050 (em comparação com 1990). As políticas britânicas incluem incentivos para energias renováveis, como subsídios e tarifas feed-in para energia solar e eólica, um programa de eficiência energética para melhorias em edifícios, e investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de energia limpa.
Nigéria
Na Nigéria, o Plano de Ação Nacional de Energias Renováveis (NREAP) visa aumentar a capacidade de energias renováveis e melhorar o acesso à energia. As políticas incluem incentivos para energia solar através de subsídios e incentivos fiscais, parcerias público-privadas para o desenvolvimento de projetos de energia renovável, e programas de eletrificação rural promovendo mini-redes solares em áreas não conectadas à rede.
Pensar em estratégias para a transição energética é fundamental, uma vez que a matriz de fontes não renováveis está ficando cada vez mais sobrecarregada e cara. Além disso, as energias limpas oferecem diversas vantagens econômicas a longo prazo, como a diminuição da vulnerabilidade econômica às flutuações dos preços do petróleo e do gás natural.
Além disso, os benefícios ambientais da transição energética para energias renováveis são evidentes. A principal vantagem é a redução das emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Ao substituir combustíveis fósseis por fontes de energia limpa, como solar e eólica, é possível diminuir drasticamente a geração de carbono, a poluição do ar e ainda contribui para a manutenção de recursos naturais.
Geração distribuída
Uma das alternativas que tem ganhado grande espaço, principalmente no Brasil é a Geração Distribuída de Energia. Ela reduz a perda energética na distribuição, traz eficiência energética para a rede e ainda traz benefícios fiscais para quem investe neste tipo de projeto.
Escrevemos aqui no Blog um guia completo sobre a Geração Distribuída e suas vantagens. Leia e fique por dentro sobre como contribuir para melhorar a matriz energética brasileira.